A maternidade que atravessa gerações
Retomando as apresentações teatrais em seu palco, o Teatro Sarah recebeu, no dia 16 de maio, as atrizes Guida Vianna e Silvia Buarque em uma trama comovente que retrata a relação atemporal e complexa entre mães e filhas. O espetáculo “A menina escorrendo dos olhos da mãe”, com texto de Daniela Pereira Carvalho e direção de Leonardo Netto, reflete, por meio de encontros e conflitos, as expectativas, esperanças, segredos, sentimentos e palavras não ditas por décadas entre três mulheres envoltas na relação simbiótica que é a maternidade.
A peça começa com uma reflexão dos últimos trinta anos vividos por Antonia (Silvia Buarque), durante uma viagem de reencontro com sua mãe Elisa (Guida Vianna). Abordando temas como a homofobia, a depressão e a distância que pode existir entre mães e filhas, o espetáculo evidencia com muita sensibilidade como o afeto que permeia a relação das duas pode ser conflitante. Além disso, mostra como as mães nunca deixam de ser filhas, tendo saudades imensas das próprias mães e desejando as ter de volta, independente das diferenças de crenças, expectativas e sonhos que uma pode ter sobre a outra.
Após revelar um segredo que guardou por mais de trinta anos, Antonia mostra como o comportamento e as palavras da mãe impactaram a sua vida e decisões, o que nos leva a vinte anos depois na história, quando Antonia enfrenta as suas próprias questões sobre a maternidade ao encontrar a filha que nunca tinha conhecido. “As falas delas de viver com uma mulher, achei interessante, já que é um tema polêmico”, destacou a paciente Lúcia Maria dos Santos de 69 anos.
Paciente Lúcia Maria dos Santos
Em entrevista à equipe da Rede SARAH, Silvia Buarque realçou a importância da cultura na reabilitação e como foi emocionante para a atriz realizar esta peça para os pacientes. “A cultura tem esse poder de tirar você do seu próprio lugar e te colocar em um lugar de reflexão. A minha personagem tem uma trama de 30 anos antes que ela passou no hospital e eu menciono o que ela sentiu. Então foi bonito para mim, mesmo em cena eu me emocionei e pensei ‘Eu estou de fato em um hospital’. É uma experiência muito bonita, principalmente por ser única”, disse.
A atriz ressaltou também que, ao realizar a peça no Teatro SARAH, ela sente que está efetivamente fazendo uma troca de energia com o público, assim como destacou Guida Vianna. “Eu fiquei muito feliz e muito emocionada de me apresentar aqui, porque eu gosto de pensar que a arte não é só o entretenimento, não é só uma diversão, é também um serviço que a gente presta pra você sair um pouco da realidade. Apresentar (a peça) em um hospital onde as pessoas estão passando por momentos e tratamentos difíceis, dá a elas uma hora de alívio, não pensando na dor, mas pensando em outra coisa, que a vida é normal, que existe a dureza, mas existe o remédio, o alívio. E a gente como artista, ser capaz de proporcionar isso, é maravilhoso”, completou Guida Vianna.
O paciente Aurélio de Morais, 68 anos, é um exemplo dessa reflexão que as atrizes citaram e de como a arte pode impactar na reabilitação de um paciente. “Achei a peça ótima. Distraiu minha mente. E às vezes é importante ter esses momentos, pois alguns estão com algum tipo de dor e isso faz com que eles possam esquecê-las”, falou.
Paciente Aurélio de Morais
A peça trouxe momentos de reflexões, risadas e emoções para a plateia, que apreciou a atuação das atrizes de forma compenetrada. Ao fim do espetáculo, Guida e Silvia receberam flores das pacientes Iara Ferreira e Sueli Gomes e arrancaram aplausos pelos quatro cantos do Teatro. Emocionadas, agradeceram ao convite e deixaram o palco com a mensagem do espetáculo: nunca deixamos de ser filhos.
